segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

DIVALDO FRANCO ALERTA SOBRE A QUALIDADE DAS OBRAS ESPÍRITAS 


É um aviso que sempre as casas espíritas devem considerar. Cada vez mais o Espiritismo cai no gosto popular, com isso, pessoas interessadas em lucro se unem a médiuns que querem divulgar as suas psicografias sem se preocuparem com qualidade e adequação doutrinária. Que nos sirva de reflexão.








http://www.youtube.com/watch?v=TzOiwBC6DaY

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012



Condenados por Deus: Um Problema Teológico (Parte I)
por Jefferson


                   Toda a teologia[1] cristã é decorrente do pensamento de que o homem tem natureza pecadora, que já nasce com esta mancha. Não se trata de pecado pessoal, porque não foi cometido por nós; o bebê recém saído do conforto uterino, por exemplo, nada fez contra às leis divinas, contudo, segundo a doutrina cristã, a indefesa criança já surge amaldiçoada, resultado da transmissão do pecado de Adão e Eva, exclusivo da espécie humana, que nos condenou à morte e ao afastamento da presença de Deus. O preço do perdão divino? A morte sacrificial de um homem-deus na cruz erguida no Gólgota e o sangue desse inocente para pagar pela absolvição de cada um de nós. Este é o fundamento da fé cristã, independente de ser católica, protestante, ortodoxa grega ou outra qualquer.

                   No presente artigo, tentaremos dissecar a Soteriologia[2] professada pelo Cristianismo, discutir as suas bases históricas e racionais, analisar as suas implicações morais para, após, verificarmos como o Espiritismo trata o tema.

                   Observamos, antes de adentrar no tema, que a fé professada é escolha de cada um, não podendo haver críticas ou desconsiderações sobre aquilo em que cada um acredita, não sendo justificadas quaisquer ironias, ofensas ou agressividades de qualquer natureza sobre a religião alheia. Todavia, o questionamento é ato livre do ser humano, não havendo assunto ou dogma que não possa ser dissecado pelo bisturi da razão, acolhendo como único limite o respeito e a urbanidade no estudo.


O Pecado de Adão e Eva

                   É provável que o leitor conheça a história de Adão e Eva desde a sua infância, portanto, não nos demoraremos nela, que pode ser consultada em qualquer Bíblia no livro de Gênesis (Gn 1-3). O que nos interessa neste estudo é a chamada "queda". Segundo a mitologia bíblica, Adão e Eva sucumbiram à tentação da serpente e comeram do fruto da árvore do bem e do mal. Deus os expulsou do paraíso antes que provassem da árvore da vida e conquistassem a eternidade, também se tornando deuses. Para que não retornassem ao Éden, dois anjos com espadas flamejantes ficaram responsáveis pela guarda dos portões paradisíacos, impedindo o retorno deles e de qualquer ser humano àquele lugar.

                   O episódio rendeu várias maldições divinas. Por conta da falta dos nossos antepassados, a serpente foi destinada a se arrastar pelo chão e a comer poeira por todos os dias da sua vida; a mulher recebeu as dores do parto e a subordinação ao marido; o homem ficou condenado a trabalhar no solo para tirar o seu sustento e, como do pó foi tirado, ao pó o homem deveria voltar quando se extinguisse a sua vida. A morte e o afastamento da presença de Deus foram as consequências da gula adâmica.

                  
A Remissão dos Pecados por Cristo

                   Segundo a narrativa bíblica, passados aproximadamente 3.800 anos da criação de Adão[3], o fariseu Paulo de Tarso, conhecido pelos cristãos como São Paulo, estava com um grande problema na sua tentativa de divulgar a mensagem de Cristo entre os povos pagãos: a resistência dos judeus convertidos ao Cristianismo. Liderados por Tiago, irmão de Jesus, os cristãos-judeus acreditavam no filho de José e Maria como o Messias prometido, que voltaria em toda a sua glória para estabelecer o seu Reino em toda a Terra. Contudo, Paulo e Barnabé, seu companheiro de evangelização, haviam chamado os gentios (não-judeus) também para fazerem parte dessa nova ordem mundial, o que causava profundas divergências com os que consideravam que as promessas de Cristo somente poderiam ser destinadas ao povo de Abraão. Para o grupo de Tiago, antes de ser cristão, os gregos, macedônicos, cretenses, romanos, etc., deveriam, primeiro, se tornar judeus, circuncidando os homens e sujeitando os convertidos às prescrições mosaicas. Depois sim, segundo a igreja de Jerusalém, eles poderiam ser cristãos.

                   Paulo discordava duramente desse entendimento. Para ele, bastava a fé em Cristo, ponto final. Nada de circuncisão, cuidados alimentares, rituais de purificação, sacrifícios no templo de Jerusalém. A recepção do batismo e a fé no Messias ressuscitado era o bastante para judeus e gentios, afirmava o Convertido de Damasco.

                   De inteligência impar, com um conteúdo rabínico não encontrado entre os discípulos mais próximos de Jesus, Paulo de Tarso fundamenta o seu discurso em uma teologia que livra os cristãos das exigências judaicas, libertando-os das prescrições mosaicas que sempre os remetiam ao templo de Jerusalém.

                   Dessa forma, explica Paulo:

"Eis porque, como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. (...) Se pela falta de um só todos morreram, com quanto maior profusão a graça de Deus e o dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo, se derramaram sobre todos. (...) Por conseguinte, assim como pela falta de um só resultou a condenação de todos os homens, do mesmo modo, da obra de justiça de um só, resultou para todos os homens justificação que traz a vida. De modo que, como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim, pela obediência de um só, todos se tornarão justos."

                   Graças à genialidade de Apóstolo dos Gentios, o Cristianismo estava desvinculado das exigências do Judaísmo, tornando a sua divulgação muito mais fácil entre outros povos, pois o único rito de iniciação era o batismo e a única prática ritual era a ceia em comum, com a divisão do pão e do vinho. Se ficasse vinculado ao Judaísmo, o Cristianismo esbarraria na resistência natural entre culturas, principalmente na questão da circuncisão[4] de homens adultos. É provável que muitos simpatizantes do Cristianismo desistissem de abraçar a nova fé se tivessem que ter os seus pênis tocados por uma lâmina.

                   Sem o vínculo às prescrições mosaica, o Cristianismo pode se desenvolver por toda a bacia do Mediterrâneo.

                   Contudo, as palavras de Paulo foram apropriadas por outros pensadores religiosos seguidores de seus passos, que fizeram da morte de Jesus na cruz a única salvação da natureza pecadora da humanidade, desvirtuamento moral este decorrente da falta de Adão e Eva.

                   No magistério católico oficial, publicado no Catecismo da Igreja Católica, temos a seguinte explicação

"Na linha de S. Paulo, a Igreja sempre ensinou que a imensa miséria que oprime os homens e sua inclinação para o mal e para a morte são incompreensíveis, a não ser referindo-se ao pecado de Adão e sem o fato de que este nos transmitiu um pecado por nascença nos afeta a todos e é 'morte da alma'. Em razão desta certeza de fé, a Igreja ministra o batismo para a remissão dos pecados mesmo às crianças que não cometeram pecado pessoal.

De que maneira o pecado de Adão se tornou o pecado de todos os seus descendentes? O gênero humano inteiro é em Adão 'sicuti unum corpus unius hominis - como um só corpo de um só homem'. Em virtude desta 'unidade do gênero humano', todos os homens estão implicados no pecado de Adão, como estão implicados na justiça de Cristo."[5]

                   Para o autor evangélico Myer Pearlman:

"(b) Pecado Inerente, ou 'pecado original'. O efeito da queda arraigou-se na natureza humana que Adão, como pai da raça, transmitiu aos seus descendentes a tendência ou inclinação para pecar. (Sl 51: 5.) Esse impedimento espiritual e moral, sob o qual os homens nascem, é conhecido como pecado original. Os atos pecaminosos que se seguem na idade de plena responsabilidade do homem são conhecidos como 'pecado atual'. Cristo, o segundo Adão, veio ao mundo resgatar-nos de todo o efeito da queda. (Rm. 5: 12-21.)"[6]

                   Portanto, no ritual católico, por exemplo, vemos nas igrejas em destaque o altar, lugar de imolação, de sacrifício. A missa é o ritual de sacrifício pascal, no qual os fiéis relembram que Jesus foi imolado pelos seus pecados:

" Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, oferecem a Deus a vítima divina e a si mesmos juntamente com ela; assim, quer pela oblação quer pela sagrada comunhão, não indiscriminadamente mas cada um a seu modo, todos tomam parte na acção litúrgica."[7]

                   A cada celebração eucarística dominical, Cristo é oferecido como vítima para o aplacamento da ira de Deus e remissão do pecado de todos os participantes da ação litúrgica.

                   Contudo, não basta acreditar ou querer para obter a salvação. Não são todos que são salvos pelo sacrifício de Jesus, mas somente aqueles que Deus escolheu antecipadamente. O homem não pode salvar a si mesmo e nem mesmo escolher ser salvo, pois a salvação vem da graça de Deus e esta graça Ele dá a quem quer. Os que receberão a graça de Deus já foram escolhidos e predestinados a ela.

"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele ele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito da sua vontade, para louvor e glória da sua graça, com a qual ele nos agraciou no Amado. (...) Nele, predestinados pelo propósito daquele que tudo opera segundo o conselho da sua vontade, fomos feitos sua herança, a fim de servirmos para o seu louvor e glória, nós, os que antes esperávamos em Cristo." (Ef 1, 3-6 e 11-12)

"Pela graça fostes salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é o dom de Deus: não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho." (Ef 2, 8-9)

"E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio. Porque os que de antemão ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de ser ele o primogênito entre muitos irmãos. E os que predestinou, também os chamou; e os que chamou, também os justificou, e os que justificou, também os glorificou". (Rm 8, 28-30)

                   Assim, em termos simples, podemos resumir a questão da salvação cristã da seguinte forma:

- Cada um de nós nasce contaminado por transmissão pelo pecado de Adão e Eva;
- O pecado nos afastou de Deus e nos condenou à morte;
- Deus se reconciliou conosco enviando o seu único filho para ser sacrificado em nosso nome, como os animais eram sacrificados em nome dos ofertantes nos altares do templo de Jerusalém;
- O sangue de Jesus limpou os nossos pecados, nos aproximando de Deus novamente;
- Serão salvos aqueles quem Deus escolheu antecipadamente para isso, não dependendo da vontade do homem ou de seus méritos, mas da graça de Deus.

                   Expostas as premissas básicas da Soterologia cristã, no próximo artigo, analisaremos as suas bases e as suas consequências, para, ao fim, comparar com a "Soterologia" espírita.


[1] 1 Teologia: ciência ou estudo que se ocupa de Deus, de sua natureza e seus atributos e de suas relações com o homem e com o universo; ciência da religião, das coisas divinas (Dicionário Houaiss)
[2] Parte da teologia que trata da salvação do homem.
[3] Tomando por base o calendário judaico, que coloca a criação de Adão 3.761 anos antes do nascimento de Cristo.
[4] Circuncisão: retirada cirúrgica do prepúcio, pele que recobre a glande do pênis. No Judaísmo, o ato ritual marca a inclusão masculina na comunidade judaica
[5] Catecismo da Igreja Católica - Edições Loyola (em parceria com as editoras Ave Maria, Vozes, Paulinas e Paulus) : São Paulo - 2009 - parágrafos 403 e 404
[6] PEARLMAN, Myer - Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - trad. Lawrence Olson - Ed. Vida : São Paulo - 1999, p. 93.
[7] LUMEN GENTIUM - SOBRE A IGREJA - Papa Paulo VI - 21/nov/1964. Fonte: sítio eletrônico do Vaticano (http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012



A Travessia do Mar Vermelho por Ron Wyatt

por Jefferson


                                 Existe uma apresentação em power point que é muito difundida na internet, contendo fotos que provariam o êxodo hebreu descrito na Bíblia como fato histórico. São vários slides com fotos da praia de Nuweiba, no Golgo de Ácaba, fotos de rodas de charretes utilizadas pela cavalaria egípcia e ossadas humanas submersas no Mar Vermelho, etc. As referidas "descobertas" são fruto de um trabalho "investigativo" do Sr. Ron Wyatt, enfermeiro anestesista, arqueólogo amador, já falecido (1999), que afirmou ter descoberto a arca de Noé, provas do Êxodo e a arca da aliança (segundo ele, debaixo da cruz onde Cristo foi martirizado). O Sr. Wyatt era obcecado em obter provas arqueológicas dos eventos bíblicos. Suas "descobertas" foram profundamente criticadas no meio científico. Atualmente, o seu trabalho é divulgado pelo Sr. Randall Osborn, evangélico e carpinteiro em acabamentos, que veio a Brasília em 2010 para divulgar as ditas “descobertas”.



                                 A apresentação de slides se encerra com o dizer: “É difícil dizer mas a tendência predominante da mídia anti-Deus é não retratar estes fatos verdadeiros na luz da fé. Preferem ser céticos e duvidar da veracidade de tais provas arqueológicas e a historicidade das narrações bíblicas, um dos livros de história mais acurados do mundo.”

                                 Em uma época de profundo avanço científico e de rigor acadêmico, muito natural que a história mais importante da Bíblia Hebraica recebesse a tentativa de legitimidade nas universidades e academias. Contudo, pesquisadores não se contentam com boa-vontade e fé, mas com fatos comprovados. Não basta gritar “Deus disse...”; os cientistas querem saber onde Ele escreveu e se o documento tem firma reconhecida.

                                 Em entrevista à Revista Adventista (mar/2009), o especialista em Arqueologia Bíblica Dr. Rodrigo Silva, com o título "O Êxodo Que Não Existiu",  analisou as tais evidências de Wyatt. Eis aqui alguns trechos da matéria:

"Por mais de uma vez tive [diz Rodrigo] a oportunidade de visitar, com a equipe arqueológica da Universidade Andrews, os locais a que Wyatt faz referência. Coletamos dados, fizemos análises, entrevistas, etc. e, depois de tudo isso, posso afirmar, sem temor de erro, que essas descobertas são completamente falsas."

"[Wyatt] sustentava que o Golfo de Áqaba, perto de Nuweiba, seria o local da travessia dos hebreus. Ali, num trabalho arqueológico submarino, Wyatt disse ter encontrado ossos humanos e rodas das carruagens de faraó cobertas de corais..."

                                 Quanto as fotos das rodas do fundo do oceano, assim o Dr, Rodrigo afirma:

"O que Wyatt não contou", diz Rodrigo, "é que os egípcios tinham dois tipos de carruagem: uma para a guerra, com aro sêxtuplo (...) e uma para passeios ocasionais, a quádrupla, que ele disse ter encontrado. Se a dita roda fotografada por Wyatt fosse mesmo autêntica, teríamos de perguntar por que faraó teria usado carruagens de passeio para perseguir o povo hebreu e deixado em casa as carruagens de guerra?"

                                 Segundo a revista:

 "As peças fotografadas por Wyatt provavelmente provieram de navios cargueiros que afundaram na região entre 1869 e 1981. A cidade de Hurghada, no norte do Mar Morto, chega a abrigar um sítio turístico para mergulhadores que desejam ver destroços de navios naufragados ali."

                                 E Rodrigo conclui:

"Não acreditemos apressadamente em tudo o que se diz na internet, nem propaguemos o boato através de e-mails do tipo FWD. A descoberta de uma fraude pode colocar em descrétido a verdadeira mensagem que devemos comunicar".




                                Para subsidiar o presente artigo, transcrevemos matéria publicada no sítio eletrônico Portal G!, da Globo.com:


"Moisés pode não ter existido, sugere pesquisa arqueológica

Escavações e inscrições mostram que povo de Israel se originou dentro da Palestina.
História sobre libertação do Egito teria influência de interesses políticos posteriores.

Reinaldo José Lopes Do G1, em São Paulo

Foto: Reprodução
Reprodução: Moisés com os Dez Mandamentos(Foto: Reprodução)
A saga de Moisés, o profeta que teria arrancado seu povo da escravidão no Egito e fundado a nação de Israel, tem bases muito tênues na realidade, segundo as pesquisas arqueológicas mais recentes. É praticamente certo que, em sua maioria, os israelitas tenham se originado dentro da própria Palestina, e não fugido do Egito. O próprio Moisés tem chances de ser um personagem fictício, ou tão alterado pelas lendas que se acumularam ao redor de seu nome que hoje é quase impossível saber qual foi seu papel histórico original.

É verdade que as opiniões dos pesquisadores divergem sobre os detalhes específicos do Êxodo (o livro bíblico que relata a libertação dos israelitas do Egito) que podem ter tido uma origem em acontecimentos reais. Para quase todos, no entanto, a narrativa bíblica, mesmo quando reflete fatos históricos, exagera um bocado, apresentando um cenário grandioso para ressaltar seus objetivos teológicos e políticos.


Airton José da Silva, professor de Antigo Testamento do Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP), resume a situação: "O Moisés da Bíblia é claramente 'construído'. Pode até ter existido um Moisés lá no passado que inspirou o dos textos, mas nada sabemos dele com segurança. Nas minhas aulas de história de Israel, começo com geografia e passo para as origens de Israel em Canaã [antigo nome da Palestina], não trato mais de patriarcas e nem do Êxodo".

Data-Limite

 Os pesquisadores dispõem há muitos anos do que parece ser a data-limite para o fim do Êxodo. Trata-se de uma estela (uma espécie de coluna de pedra) erigida pelo faraó Merneptah pouco antes do ano 1200 a.C. A chamada estela de Merneptah registra uma série de supostas vitórias do soberano egípcio sobre territórios vizinhos, entre eles os de Canaã. E o povo de Moisés é mencionado laconicamente: "Israel está destruído, sua semente não existe mais". Não se diz quem liderava Israel nem que regiões eram abrangidas por seu território. Trata-se da mais antiga menção aos ancestrais dos judeus fora da Bíblia. 

 Foto: Reprodução
Inscrição em hieróglifos feita sob ordem do faraó Merneptah pouco antes de 1200 a.C. Esse trecho do texto diz: "Israel está destruído, sua semente não existe mais" (Foto: Reprodução)
Se a saída dos israelitas do Egito ocorreu, ela precisaria ter acontecido antes disso. A Bíblia relata que, cerca de 400 anos antes de Moisés, os ancestrais do povo de Israel, liderados pelo patriarca Jacó, deixaram seu lar na Palestina e se estabeleceram no norte do Egito, junto à parte leste da foz do rio Nilo. Os egípcios teriam permitido esse assentamento porque, na época, o mais importante funcionário do faraó era José, filho de Jacó. Décadas mais tarde, um novo faraó teria ficado insatisfeito com o crescimento populacional dos descendentes do patriarca e os transformado em escravos.


Por algum tempo, arqueólogos e historiadores acharam que haviam identificado evidências em favor dos elementos básicos dessa trama. É que, por volta do ano 1700 a.C., a região da foz do Nilo foi dominada pelos chamados hicsos, uma dinastia de soberanos originários de Canaã e de etnia semita, tal como os israelitas. (O nome "Jacó", muito comum na época, está até registrado entre nobres hicsos.)

 Pouco mais de um século mais tarde, os egípcios expulsaram a dinastia estrangeira de suas terras. Isso mataria dois coelhos com uma cajadada só. Explicaria a ascensão meteórica de José na burocracia egípcia, graças à proximidade étnica com os hicsos, e também por que seus descendentes foram escravizados -- eles teriam sido associados à ocupação estrangeira no Egito.

Foto: Reprodução
O mosteiro de Santa Catarina, no Sinai, é tradicionalmente identificado com o local onde Moisés teve seu encontro com Javé (Foto: Reprodução)
O problema com a idéia, no entanto, é que não há nenhuma menção aos israelitas ou a José e sua família em documentos egípcios ou de outros reinos do Oriente Médio nessa época. Pior ainda, até hoje não foi encontrado nenhum sítio arqueológico no Sinai que pudesse ser associado aos 40 anos que os israelitas teriam passado no deserto depois de deixar o Egito.


Os textos egípcios também não falam em nenhum momento da fuga liderada por Moisés, se é que ela ocorreu. "Isso é um problema grave. O argumento de que os egípcios não registravam derrotas é falso: a saída de um pequeno grupo nem era um revés, e eles relatavam derrotas sim, mesmo quando diziam que tinha sido um empate", afirma Airton José da Silva. 

Apiru = hebreus?

Para Milton Schwantes, professor da  Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, outro problema com a ligação entre os israelitas e os hicsos é dar ao Êxodo uma dimensão muito mais grandiosa do que seria razoável esperar do evento. "É uma cena de pequeno porte -- estamos falando de grupos minoritários, de 150 pessoas fugindo pelo deserto. Em vez do exército egípcio inteiro perseguindo essa meia dúzia de pobres e sendo engolido pelo mar, o que houve foram uns três cavalos afundando na lama", brinca Schwantes.

Ele é menos pessimista em relação aos possíveis elementos de verdade histórica na narrativa do Êxodo. Os israelitas são freqüentemente chamados de "hebreus" nesse livro da Bíblia, uma mistura de nomenclaturas que deixou os estudiosos com a pulga atrás da orelha. Documentos do Oriente Médio datados (grosso modo) entre 2000 a.C. e 1200 a.C., porém, falam dos habiru ou apiru -- grupos que parecem ter vivido às margens da sociedade, atuando como trabalhadores migrantes, escravos, mercenários ou guerrilheiros.
"Ou seja, os hebreus talvez não fossem um grupo étnico, mas uma categoria social, de pessoas que muitas vezes eram forçadas a participar de grandes construções no Egito, sem receber o necessário para o seu sustento", afirma Schwantes. Ele também vê sinais de memórias históricas antigas nos nomes de algumas cidades egípcias mencionadas na narrativa do Êxodo -- lugares que foram ocupados por um período relativamente curto de tempo, por volta de 1200 a.C.

"O próprio nome de Moisés é um nome egípcio que os israelitas não entenderam", diz Schwantes. Parece ser a terminação "-mses" presente em nomes de faraós como Ramsés e quer dizer "nascido de" algum deus -- no caso de Ramsés, "nascido do deus Rá". No caso do líder dos israelitas, falta a parte do nome referente ao deus.

Mar: Vermelho ou de Caniços?

O momento mais famoso da saída dos israelitas do Egito é o confronto entre Moisés e o exército egípcio no Mar Vermelho, quando, por ordem de Deus, o profeta abre as águas para seu povo passar e as fecha para engolir os homens do faraó. No entanto, é possível que a história original tenha se referido não a águas oceânicas, mas a um pântano.

Explica-se: o sentido original do hebraico Yam Suph, normalmente traduzido como "Mar Vermelho", parece ser "Mar de Caniços", ou seja, uma área cheia dessas plantas típicas de regiões lacustres. Assim, nas versões originais da lenda, afirmam estudiosos do texto bíblico, os "carros e cavaleiros" do Egito teriam ficado presos na lama de um grande pântano, enquanto os fugitivos conseguiam escapar. Conforme a tradição oral sobre o evento se expandia, os acontecimentos milagrosos envolvendo a abertura de um mar de verdade foram sendo adicionados à história.

O dado mais importante sobre a dimensão real do Êxodo, no entanto, talvez venha da Palestina. Israel Finkelstein, arqueólogo da Universidade de Tel-Aviv, em Israel, conta que uma série de novos assentamentos associados às antigas cidades israelitas aparecem na Palestina por volta da mesma época em que a estela de Merneptah foi erigida. Acontece que a cultura material -- o tipo de construções, utensílios de cerâmica etc. -- desses "israelitas" é idêntica à que já existia em Canaã antes de esses assentamentos surgirem. Tudo indica, portanto, que eles seriam colonos nativos da região, e não vindos de fora.

Para Finkelstein, isso significa que a história do Êxodo foi redigida bem mais tarde, por volta do século 7 a.C. O confronto com o Egito teria sido usado como forma de marcar a independência dos israelitas em relação aos vizinhos, que estavam tentando restabelecer seu domínio na Palestina. A figura de Moisés, talvez um herói quase mítico já nessa época, teria sido incorporada a essa versão da origem da nação."

Fonte: Portal G1 do sítio Globo.com


Portanto, na falta de evidências confiáveis, e de subsídios secundários que corroborem o relato bíblico, o espírita sério deve ser contido em seu entusiasmo bíblico, evitando de replicar e-mails que, depois, se mostram sem credibilidade. Nunca nos esqueçamos desta máxima espírita: 

"Fé inabalável só  o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade." ( Allan Kardec - Ev. Segdo. o Espiritismo - Cap. XIX, item 7).
  

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

RISCO DE DESCARACTERIZAÇÃO
MPF-MG vai à Justiça pelo tombamento do patrimônio de Chico Xavier

Da Redação - 08/02/2012 - 10h16

O MPF-MG (Ministério Público Federal em Minas Gerais) ajuizou ação civil pública  na 1ª Vara Federal de Uberaba para obrigar a União, o estado de Minas Gerais e o município de Uberaba a realizarem o inventário e tombamento dos bens móveis e imóveis deixados pelo médium Chico Xavier.

Segundo a ação, apesar de reconhecer o expressivo valor histórico e cultural desse patrimônio brasileiro, o governo nada fez para conservá-los. "Mas, pelo contrário, permaneceram omissos e inertes, o que obrigou o MPF a pedir a intervenção judicial para conferir proteção constitucional aos bens", diz ação.
 O objetivo  do MPF é o de impedir a evasão, destruição e descaracterização do patrimônio deixado por Chico Xavier. O médium é considerado um dos maiores fenômenos religiosos de todos os tempos, e um dos mais importantes personagens brasileiros do século XX.
Chico Xavier nasceu em Pedro Leopoldo/MG, em 1910. Mudou-se em 1959 para Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde viveu até a sua morte em 2002. Ele deixou mais de 400 livros psicografados. Estudiosos dizem que, dos 10 melhores livros espíritas do século XX, sete são da lavra do médium brasileiro, que doou os direitos autorais de todas as suas obras para organizações espíritas e instituições de caridade. Estima-se que foram vendidos mais de 50 milhões de livros em português, com traduções em várias línguas.

Sua devoção à caridade e ao próximo renderam-lhe a indicação ao Prêmio Nobel da Paz em 1981, disputando a indicação com o Papa João Paulo II e o Escritório do Alto Comissariado da ONU para refugiados.

Valor material e imaterial

Para o MPF, é “inegável a importância de Chico Xavier para a cultura nacional, regional e municipal” e “chega a ser absurdo o fato de que todos os bens deixados pelo médium estejam completamente desprotegidos, sem qualquer medida de conservação, controle ou catalogação”, com grande parte deles exposta ao público de forma inapropriada.

A ação relata que, somente após intensa provocação do MPF, o imóvel, que é alvo de peregrinação por adeptos da doutrina espírita de todo o mundo, foi cadastrado como museu pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Museus). Tal medida, no entanto, não levou a qualquer medida protetiva mais eficaz dos bens expostos à visitação pública.

“A casa de Chico Xavier é um museu particular, onde se encontram expostos livros, esculturas, imagens sacras, mobiliário, fotografias, roupas, documentos e inúmeros outros bens”, lembra a procuradora da República Raquel Silvestre.  “O problema é que essa exposição requer medidas técnicas especiais como identificação, catalogação, ambientação, ou seja, requer um projeto museográfico, o que nunca foi feito”.

Visita técnica feita por especialistas do IBRAM detectou que os bens não possuem qualquer tipo de instrumento de registro, controle e segurança. À exceção dos livros psicografados pelo médium, que apresentam etiquetas, não há nenhuma identificação dos demais itens expostos.

Para a procuradora, “fica evidente que esses bens de inestimável valor histórico e cultural não estão recebendo as medidas protetivas necessárias à sua conservação. Afinal, não se sabe ao certo nem o que de fato existe. Não há nenhuma forma de controle e, evidentemente, nessa situação, os bens podem facilmente se extraviar e deteriorar”.

O próprio imóvel que abriga o museu, a casa situada na Rua Dom Pedro I, 145, no Bairro Parque das Américas, onde Chico Xavier morou por mais de 30 anos, está passando por modificações de forma pouco técnica e respeitosa à cultura nacional.

“É evidente que a manutenção das características originais da edificação faz parte da própria história que se objetiva preservar. O visitante que procura a Casa de Chico Xavier quer encontrá-la em seu estado original, para conhecer o local onde o médium viveu. No entanto, estão sendo realizadas alterações estruturais no imóvel, sem qualquer auxílio de técnicas de preservação da identidade histórica e cultural do ambiente”, afirma a procuradora.

Ela explica que o tombamento é uma medida administrativa que impõe restrições aos bens particulares e públicos, com o intuito de preservá-los. Essas restrições consistem, por exemplo, na obrigatoriedade de conservação e de preservação das características originais. Mas não há qualquer ingerência na titularidade dos bens. "Ou seja, o atual proprietário dos bens deixados por Chico Xavier, Eurípedes Higino dos Reis, não tem com que se preocupar. O tombamento nada mais fará do que auxiliá-lo no controle e conservação dos bens, podendo trazer orientações técnicas e procedimentos adequados. Ele não perderá a propriedade de nenhum bem”, diz.
Número da ação: 0007942-75.2011.4.01.3802.
Fonte: site “Última Instância”

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O ESPIRITISMO É CRISTÃO?


por Jefferson

Quando se pergunta se o Espiritismo é cristão para um certo número de pessoas, existe uma grande possibilidade de se receber respostas divergentes. Um católico ou um evangélico (protestante) não terá dúvida de afirmar que não,   o Espiritismo não é cristão, e elencará uma série de fundamentos para tal.  Por outro lado, a mesma questão analisada por um espírita receberá uma resposta afirmativa - sim, o Espiritismo é cristão - e haverá, também, uma explicação bem embasada para a sua opinião. Portanto, a questão longe está de ter uma resposta conclusiva.

Se a pergunta fosse feita a mim, eu pediria para o interlocutor ser mais específico: cristão por qual critério? A depender do critério que se use para se definir o que é ser cristão, teremos uma resposta que inclui ou que exclui o Espiritismo do Cristianismo.

Para um religioso cristão, a exigência a ser cumprida, via de regra, será a aceitação incondicional do denominado Credo Niceno-Constantinopolitano que, como o nome já diz, foi definido no Concílio de Nicéia (325 d.C.) e ampliado no Concílio de Constantinopla (381 d.C.). Os concílios surgiram pela necessidade de unificar, entre os bispos cristãos, a doutrina a ser preservada pelas igrejas, aquela reconhecida como fiel à tradição apostólica e evangélica, e, por outro lado, quais as doutrinas que deviam ser combatidas por serem  distorções. Isso porque havia um embate sem-fim entre os religiosos sobre o entendimento do Cristianismo, principalmente sobre a natureza de Jesus Cristo, surgindo seitas com idéias muito particulares sobre quem teria sido o Mestre de Nazaré e como os fiéis deveriam vivenciar a mensagem dele.

Dessa forma, os bispos reunidos em grandes assembléias (conciliuns) definiram em que os fiéis deveriam acreditar, daí o nome "credo", ou seja, "eu creio". Era uma forma de declarar a sua fidelidade à Igreja (não confundir com a Igreja Católica Apostólica Romana).

Assim, ficou definido como cristão quem declarava a sua fé nos pontos capitais abaixo:

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra,
de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigênito de Deus,
gerado do Pai antes de todos os séculos
Deus de Deus, Luz da luz,
verdadeiro Deus de verdadeiro Deus,
gerado, não feito,
da mesma substância do Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E, por nós, homens,
e para a nossa salvação,
desceu dos céus:
Se encarnou pelo Espírito Santo,
no seio da Virgem Maria,
e se fez homem.
Também por nós foi crucificado
sob Pôncio Pilatos;
padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia,
conforme as Escrituras;
E subiu aos céus,
onde está assentado à direita de Deus Pai.
Donde há de vir, em glória,
para julgar os vivos e os mortos;
e o Seu reino não terá fim.
Creio no Espírito Santo,
Senhor e fonte de vida,
que procede do Pai (e do Filho);
e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado:
Ele falou pelos profetas.
Creio na Igreja
Una, Santa, Católica e Apostólica.
Confesso um só batismo para remissão dos pecados.
Espero a ressurreição dos mortos;
E a vida do mundo vindouro.
Amém.
(Fonte: Wikipedia)


* Católica significa "universal", abrange todas as igrejas (romana, ortodoxa, etc.), não somente a Igreja Católica Apostólica Romana.


Estes foram os artigos de fé que definiram o que é ser cristão. Posteriormente, a Igreja Católica (Romana) reescreveu o Credo Niceno-Constantinopolitano em uma fórmula mais simples, chamada de "Símbolo dos Apóstolos", pois, segundo a lenda, os seguidores diretos de Jesus teriam se reunido para definir os fundamentos da fé cristã, conforme exposto abaixo:


Símbolo dos Apóstolos


Creio em Deus,
Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra;
e em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor,
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
nasceu da Virgem Maria;
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia;
subiu aos Céus,
onde está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
de onde há-de vir a julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo.
na santa Igreja Católica;
na comunhão dos Santos;
na remissão dos pecados;
na ressurreição da carne;
na vida eterna. Amen.

(Fonte: http://www.paroquias.org/oracoes/?o=7)


Assim, para os ortodoxos da fé, quem não reza por essa fórmula, não é cristão em comunhão com a Igreja, podendo ser um herege, um apóstata ou um cismático. Qual a diferença? O Código de Direito Canônico elucida:

O Código do Direito Canônico -- legislação oficial da Igreja Católica -- considera hereges os indivíduos batizados que negam de modo pertinaz verdades que a igreja ensina como reveladas por Deus. Define ainda como cismático o cristão que recusa a submissão à hierarquia eclesiástica e, direta ou indiretamente, ao papa. Qualifica, enfim, como apóstata aquele que renega totalmente sua fé.. (Fonte: Enciclopédia Barsa)

Portanto, se o critério para definir alguém como cristão for o Credo, os espíritas serão colocados do lado de fora do Cristianismo. Isso porque o denominado "Símbolo dos Apóstolos" não representa para os espíritas a doutrina deixada por Jesus.  

Mas, então, por que os espíritas afirmam que o Espiritismo é cristão?

A base cristã que se abraça ao Espiritismo está nos Evangelhos, que representam a tradição daquilo que Jesus teria dito e feito em sua vida (lembrando: os evangelhos, no formato que conhecemos, começaram a ter a sua configuração final trinta ou quarenta anos após a morte de Jesus).

Esqueçamos um pouco o que os bispos definiram como ser cristão. A pergunta que devemos fazer é: qual o critério de Jesus para considerar alguém como seu seguidor? Afinal, seguidor de Cristo é cristão, certo? Vejamos o que nós encontramos na Boa Nova (em grego, evangelion):

Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim. Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes. Também estes lhe perguntarão: - Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos? E ele responderá: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer. E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna. (Mt 25, 31-46  - Bíblia Católica v.2.0).


Outra passagem é evangélica é mais intrigante e desafiadora

Em seguida, dirigiu-se a todos: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. (Lc 9, 23 - Bíblia Católica v.2.0).

Na primeria passagem, Jesus define como "benditos do meu Pai" todos aqueles que foram caridosos para o seu semelhante, sem exigir nenhum outro critério (batismo, confissão de fé, etc.). No segunda passagem, a de Lucas, adverte para os que pretendem ser os seus seguidores: negue a si mesmo (a prioridade está no Reino de Deus), tome a sua cruz (aceite a sua cota de rejeição do mundo por optar pelo Evangelho) e siga-o (siga o seu exemplo).

Como vemos, o critério de Jesus é muito mais abrangente do que o das igrejas. Qualquer pessoa que ame ao seu próximo, qualquer pessoa que lhe siga os passos com prioridade, que sacrifique o seu egoísmo, orgulho e vaidade para que a paz se faça, este é o verdadeiro seguidor do Rabi da Galiléia. Aliás, não só seguidor, mas familiar de Cristo:

Jesus falava ainda à multidão, quando veio sua mãe e seus irmãos e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar. Disse-lhe alguém: Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te. Jesus respondeu-lhe: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. (Mt 12, 46-50) 

Algum concílio ecumênico teve o poder de revogar isto? Qual bispo, patriarca ou papa possui legitimidade para limitar onde Jesus ampliou?

Portanto, se o critério para se considerar alguém cristão for as palavras do próprio Cristo, o que nos parece mais acertado, os espíritas são tão membros da comunidade cristã como qualquer outro que atenda às suas exigências, independente de dogmas de fé criados pelos homens mais de trezentos anos após a sua morte.

Em resumo: para Jesus, não precisa nem acreditar em Cristo para ser cristão; ele quer é que os seus ensinamentos sejam vivenciados. O seu critério é único: fazer a vontade do Abba ("papai" em aramaico), que nada mais é do que a prática da lei do amor. 


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