quinta-feira, 5 de dezembro de 2013




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O que Jesus Disse? O eu Jesus não disse? Quem mudou a Bíblia e porque

Bart D. Ehrman – Título original: Misquotig Jesus: The Story Behind Who Changed de Bible and Why

Tradução: Marcos Marcionilo– Prestígio Editora, 2006


 

Bart Ehrman é PhD em Teologia pela Princeton University of North Caroline, especialista em Novo Testamento, igreja primitiva, ortodoxia e heresia, manuscritos antigos e na vida de Jesus. Quando jovem, motivado pela pratica do Cristianismo e estudo da Bíblia, ingressou no Moody Bible Institute de Chicago e, após três anos de estudo da Bíblia, decidiu se formar em Teologia, na faculdade evangélica Wheaton College, onde após aprofundar seus estudos em relação aos textos bíblicos, foi paulatinamente se dando conta da quantidade de alterações que havia em relação aos textos das bíblias disponíveis e o texto disponível em grego.

 

Aprofundou seu conhecimento em línguas, para poder compreender melhor manuscritos antigos, e quanto mais estudava estes, mas notava que, contrariamente ao que a tradição prega, as palavras constantes na Bíblia estavam longe de ser inspiradas por Deus. Tais estudos o conduziram a um caminho completamente diverso daquele que ele inicialmente tinha planejado, quando ingressou no Moody, para se tornar um divulgador da Bíblia como muitos de seus amigos fizeram. Sua dedicação aos estudos dos textos antigos e o vasto conhecimento adquirido durante anos de pesquisas lhe renderam a alcunha de “a maior autoridade em Bíblia do mundo”.
 

Nesta obra composta de sete capítulos, Ehrman mostra de maneira didática todos os porquês das milhares de mudanças que os pesquisadores dos textos bíblicos identificaram desde o início do século XVII, quando começaram a surgir pessoas dispostas a buscar uma aproximação aos textos originais que compõem a Nova Aliança.

 

 No primeiro capítulo ele mostra que, assim como o Judaísmo, o Cristianismo também era uma religião do livro, apesar das características dos povos daquele tempo, principalmente dos Cristãos, que se tratavam em sua quase totalidade de pessoas analfabetas, mas cuja fé, com o passar dos anos, trouxe para a nova religião pessoas cultas que participaram da elaboração e disseminação dos ensinamentos de Jesus.

 

É ainda mostrada a produção dos mais diversos tipos de textos (Evangelhos, Cartas, Epístolas, Apocalipses, etc) que, para serem difundidos, dependiam do ofício de copistas.

 

Depois, no segundo capítulo, Ehrman ilustra como a falta de preparo dos primeiros copistas contribuiu desde os primórdios com a modificação dos textos originais, devido à disseminação destes pelo mundo Cristão, seja por incapacidade, cansaço, necessidade de combate daqueles que se julgavam ortodoxos contra conceitos considerados heréticos, etc.

 

É exemplificada também a inserção, por parte de copistas, de trechos inteiros que não constavam dos textos originais como, por exemplo, a passagem da mulher flagrada em adultério, onde é mostrado que tal passagem tem estilo de escrita completamente distinto do restante do evangelho onde se encontra e que a mesma não consta de diversos manuscritos antigos. Outros exemplos também são abordados neste capítulo.

 

No terceiro capítulo é mostrado como se chegou aos textos que dispomos atualmente pela atividade dos copistas profissionais, à partir do século IV, da elaboração do cânon sagrado, da criação da Vulgata Latina (até então os textos existentes utilizavam principalmente o grego mas, após a oficialização do Cristianismo como religião do Império Romano, exigiu-se a tradução dos textos para o latim).

 

Ele mostra também como foi o resgate dos textos mais antigos em grego e, com o advento da imprensa, já no sec. XVI, o surgimento dos primeiros pesquisadores das escrituras, bem como o princípio da identificação das falhas nos textos.

 

O quarto capítulo enfatiza a busca dos estudiosos pelos textos mais antigos possíveis, como consequência da quantidade de erros que começaram a ser mapeados pelos mesmos. São mostrados os trabalhos de alguns pesquisadores antigos e suas conclusões a respeito das milhares de alterações identificadas por estes.

 

No quinto capítulo, Ehrman apresenta uma técnica desenvolvida desde o princípio do sec. XVI, aprimorada pelos estudiosos das escrituras, que visa a avaliar se uma determinada passagem trata-se de um original ou trata-se de consequência de erros ou inserções – a Critica Textual. Tal técnica auxilia sobremaneira na clarificação a respeito de passagens polêmicas que constam (ou constaram) nas escrituras. Jesus sentia ira? Sentiu medo com a perspectiva do que enfrentaria no calvário? Sentiu-se abandonado por Deus na Cruz? Estas questões são avaliadas pela ótica da Crítica Textual, para se concluir a respeito do que provavelmente constava nos textos originalmente escritos, que evidentemente não são os textos que constam nas nossas Bíblias atuais.

 

Nos dois últimos capítulos, são mostrados exemplos de mudanças intencionais promovidas pelos copistas nos textos da Nova Aliança, seja porque estavam motivados por fatores teológicos, diante da necessidade de combate às heresias dos diversos Cristianismos existentes nos primeiros séculos, até a definição do cânon sagrado no sec. IV, seja porque motivados por elementos sociais, como a exclusão de referências à importância da mulher no culto das igrejas e conflitos com judeus e com pagãos.

 

Ehrman conclui o livro fazendo uma análise do que motivou tantas mudanças nos textos produzidos, mostrando que em grande parte tais mudanças se devem pela capacidade interpretativa do ser humano e que, em grande parte, tais mudanças para aqueles que as promoveram visavam realmente melhorar o texto. Não havia, portanto, a preocupação com a manutenção do texto original e muito menos com as consequências que tais mudanças provocariam para as gerações futuras, ou seja, a preocupação que motivou as mudanças sempre foi de momento, para garantir a manutenção da ortodoxia teológica em relação aos textos.

 

Enfatiza-se que, por se tratar de uma obra dos homens, até mesmo os autores foram responsáveis por modificações nos ensinamentos de Jesus, exatamente por serem humanos com necessidades e sentimentos.

 

Conclui-se de tudo o que é exposto no livro que não há como acreditar que as palavras contidas na Bíblia sejam inspiradas por Deus. Não se chega nem perto disso. O que temos hoje na Bíblia é um livro escrito por homens, alterado por homens, que é interpretado por homens e que, nestas interpretações, tiram conclusões das mais variadas formas. Porém, historicamente, os fatos não permitem que se creia na infalibilidade do que está escrito na Bíblia e tais fatos são chancelados em diversos momentos da história, por diversos ícones da Cristandade.
 
 
RESENHA: Bruno Fabiano de Sá Oliveira
 
Notas:
 

 

 

2 comentários:

  1. Parabéns! A resenha me estimulou a procurar o livro para lê-lo. Obrigado.

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  2. Pessoal, para produzir a resenha, li o livro duas vezes e assim, posso afirmar: vale muito a pena a leitura!!! Esclarece bastante diversas passagens, cita muitos exemplos de modificações efetuadas nos textos e principalmente, a motivação destas modificações. Para os estudiosos de Jesus Histórico, a leitura é obrigatória e com bastante conteúdo!!! Obrigado ao Jefferson e ao Douglas pela indicação da leitura e pela oportunidade de contribuir com essa resenha.

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