O que Jesus Disse? O eu Jesus não
disse? Quem mudou a Bíblia e porque
Bart D. Ehrman – Título original: Misquotig Jesus: The Story Behind Who Changed de Bible and Why
Tradução: Marcos Marcionilo–
Prestígio Editora, 2006
Bart Ehrman é PhD
em Teologia pela Princeton University of North Caroline,
especialista em Novo Testamento, igreja primitiva, ortodoxia e heresia, manuscritos
antigos e na vida de Jesus. Quando jovem, motivado pela pratica do Cristianismo
e estudo da Bíblia, ingressou no Moody Bible Institute de
Chicago e, após três anos de estudo da Bíblia, decidiu se formar em Teologia,
na faculdade evangélica Wheaton College, onde após aprofundar seus
estudos em relação aos textos bíblicos, foi paulatinamente se dando conta da
quantidade de alterações que havia em relação aos textos das bíblias
disponíveis e o texto disponível em grego.
Aprofundou seu
conhecimento em línguas, para poder compreender melhor manuscritos antigos, e
quanto mais estudava estes, mas notava que, contrariamente ao que a tradição prega,
as palavras constantes na Bíblia estavam longe de ser inspiradas por Deus. Tais
estudos o conduziram a um caminho completamente diverso daquele que ele
inicialmente tinha planejado, quando ingressou no Moody, para se tornar
um divulgador da Bíblia como muitos de seus amigos fizeram. Sua dedicação aos
estudos dos textos antigos e o vasto conhecimento adquirido durante anos de
pesquisas lhe renderam a alcunha de “a maior autoridade em Bíblia do mundo”.
Nesta obra composta
de sete capítulos, Ehrman mostra de maneira didática todos os porquês das
milhares de mudanças que os pesquisadores dos textos bíblicos identificaram
desde o início do século XVII, quando começaram a surgir pessoas dispostas a
buscar uma aproximação aos textos originais que compõem a Nova Aliança.
No primeiro capítulo ele mostra que, assim
como o Judaísmo, o Cristianismo também era uma religião do livro, apesar das
características dos povos daquele tempo, principalmente dos Cristãos, que se
tratavam em sua quase totalidade de pessoas analfabetas, mas cuja fé, com o
passar dos anos, trouxe para a nova religião pessoas cultas que participaram da
elaboração e disseminação dos ensinamentos de Jesus.
É ainda mostrada a
produção dos mais diversos tipos de textos (Evangelhos, Cartas, Epístolas,
Apocalipses, etc) que, para serem difundidos, dependiam do ofício de copistas.
Depois, no segundo
capítulo, Ehrman ilustra como a falta de preparo dos primeiros copistas
contribuiu desde os primórdios com a modificação dos textos originais, devido à
disseminação destes pelo mundo Cristão, seja por incapacidade, cansaço,
necessidade de combate daqueles que se julgavam ortodoxos contra conceitos
considerados heréticos, etc.
É exemplificada
também a inserção, por parte de copistas, de trechos inteiros que não constavam
dos textos originais como, por exemplo, a passagem da mulher flagrada em
adultério, onde é mostrado que tal passagem tem estilo de escrita completamente
distinto do restante do evangelho onde se encontra e que a mesma não consta de
diversos manuscritos antigos. Outros exemplos também são abordados neste
capítulo.
No terceiro
capítulo é mostrado como se chegou aos textos que dispomos atualmente pela
atividade dos copistas profissionais, à partir do século IV, da elaboração do
cânon sagrado, da criação da Vulgata Latina (até então os textos existentes
utilizavam principalmente o grego mas, após a oficialização do Cristianismo como
religião do Império Romano, exigiu-se a tradução dos textos para o latim).
Ele mostra também
como foi o resgate dos textos mais antigos em grego e, com o advento da
imprensa, já no sec. XVI, o surgimento dos primeiros pesquisadores das
escrituras, bem como o princípio da identificação das falhas nos textos.
O quarto capítulo
enfatiza a busca dos estudiosos pelos textos mais antigos possíveis, como consequência
da quantidade de erros que começaram a ser mapeados pelos mesmos. São mostrados
os trabalhos de alguns pesquisadores antigos e suas conclusões a respeito das
milhares de alterações identificadas por estes.
No quinto capítulo,
Ehrman apresenta uma técnica desenvolvida desde o princípio do sec. XVI,
aprimorada pelos estudiosos das escrituras, que visa a avaliar se uma
determinada passagem trata-se de um original ou trata-se de consequência de
erros ou inserções – a Critica Textual. Tal técnica auxilia sobremaneira na
clarificação a respeito de passagens polêmicas que constam (ou constaram) nas
escrituras. Jesus sentia ira? Sentiu medo com a perspectiva do que enfrentaria
no calvário? Sentiu-se abandonado por Deus na Cruz? Estas questões são
avaliadas pela ótica da Crítica Textual, para se concluir a respeito do que
provavelmente constava nos textos originalmente escritos, que evidentemente não
são os textos que constam nas nossas Bíblias atuais.
Nos dois últimos
capítulos, são mostrados exemplos de mudanças intencionais promovidas pelos
copistas nos textos da Nova Aliança, seja porque estavam motivados por fatores
teológicos, diante da necessidade de combate às heresias dos diversos
Cristianismos existentes nos primeiros séculos, até a definição do cânon
sagrado no sec. IV, seja porque motivados por elementos sociais, como a
exclusão de referências à importância da mulher no culto das igrejas e
conflitos com judeus e com pagãos.
Ehrman conclui o
livro fazendo uma análise do que motivou tantas mudanças nos textos produzidos,
mostrando que em grande parte tais mudanças se devem pela capacidade
interpretativa do ser humano e que, em grande parte, tais mudanças para aqueles
que as promoveram visavam realmente melhorar o texto. Não havia, portanto, a
preocupação com a manutenção do texto original e muito menos com as
consequências que tais mudanças provocariam para as gerações futuras, ou seja,
a preocupação que motivou as mudanças sempre foi de momento, para garantir a
manutenção da ortodoxia teológica em relação aos textos.
Enfatiza-se que,
por se tratar de uma obra dos homens, até mesmo os autores foram responsáveis
por modificações nos ensinamentos de Jesus, exatamente por serem humanos com
necessidades e sentimentos.
Conclui-se de tudo
o que é exposto no livro que não há como acreditar que as palavras contidas na
Bíblia sejam inspiradas por Deus. Não se chega nem perto disso. O que temos
hoje na Bíblia é um livro escrito por homens, alterado por homens, que é interpretado
por homens e que, nestas interpretações, tiram conclusões das mais variadas
formas. Porém, historicamente, os fatos não permitem que se creia na
infalibilidade do que está escrito na Bíblia e tais fatos são chancelados em
diversos momentos da história, por diversos ícones da Cristandade.
RESENHA: Bruno Fabiano de Sá Oliveira
Notas:
1. http://skoob.s3.amazonaws.com/livros/3864/O_QUE_JESUS_DISSE_O_QUE_JESUS_NAO_DISSE_1231775859P.jpg
Parabéns! A resenha me estimulou a procurar o livro para lê-lo. Obrigado.
ResponderExcluirPessoal, para produzir a resenha, li o livro duas vezes e assim, posso afirmar: vale muito a pena a leitura!!! Esclarece bastante diversas passagens, cita muitos exemplos de modificações efetuadas nos textos e principalmente, a motivação destas modificações. Para os estudiosos de Jesus Histórico, a leitura é obrigatória e com bastante conteúdo!!! Obrigado ao Jefferson e ao Douglas pela indicação da leitura e pela oportunidade de contribuir com essa resenha.
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