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O CONSOLADOR E O INSENSÍVEL
por Jefferson
O Brasil chora a dor do falecimento de 235 pessoas – em sua
maioria, jovens – na tragédia ocorrida na boate Kiss, em Santa Maria – RS, no último
domingo (27/01/2013). Mais de 70 estão internados em estado grave. Pais,
namorados, amigos, desconhecidos, todos os cidadãos de Santa Maria e do Brasil
estão tristes na alma com o ocorrido. Para os mais próximos, o desespero de
perder um ente jovem, mal saído da adolescência, para as chamas e a fumaça de
um incêndio plenamente evitável é inimaginável.
Qual é o papel do Movimento Espírita diante do sofrimento desses
familiares? Do desespero de pais e mães que choram os seus filhos, que enterram
as suas esperanças e os seus corações juntamente com os caixões? A resposta é
simples: chamar o Espiritismo para o papel dado a ele por Jesus: o de
Consolador. Secar lágrimas, ser solidário, oferecer palavras de afeto ou mesmo
oferecer ajuda material e técnica, como muitos voluntários da área de saúde do
Brasil inteiro estão fazendo.
Contudo, a boa intenção de ajudar, de trazer consolo, quando
distraída do amor fraterno e da devida sensibilidade pode ser uma forma de
agredir, de machucar, ainda que sem essa intenção.
A Federação Espírita Brasileira (FEB), em seu sítio
eletrônico, publicou a seguinte mensagem: “A
Federação Espírita Brasileira manifesta solidariedade e vibrações fraternas às
famílias envolvidas e a toda comunidade de Santa Maria (RS)”.
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Como entidade espírita brasileira, nenhuma outra casa tem a
representatividade que a FEB possui. Muito acertado e desejável que em nome do
Movimento Espírita nacional, a sua associação mais conhecida mostrasse a sua
solidariedade com os envolvidos naquele sinistro. Ótimo se parasse aí.
A FEB, contudo, querendo esclarecer os possíveis motivos de
tantas vidas ceifadas, provavelmente para mostrar que nada ocorre por acaso,
que Deus é justo e misericordioso, teve a infelicidade de publicar, em adendo, a seguinte mensagem
psicografada do espírito Emmanuel por intermédio de seu médium, Chico Xavier:
Desencarnações Coletivas (Emmanuel)
Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de
tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como nos casos dos grandes incêndios?
(Pergunta endereçada a Emmanuel por algumas dezenas de pessoas em
reunião pública, na noite de 23-2-1972, em Uberaba, Minas).
RESPOSTA:
Realmente reconhecemos em Deus o Perfeito Amor aliado à Justiça
Perfeita. E o Homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça
imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo
julgador de si próprio.
Quando retornamos da Terra para o Mundo Espiritual, conscientizados nas
responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados
e rogamos os meios precisos a fim de resgatá-los devidamente.
É assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos
compromissados para a redenção múltipla.
***
Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos
coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos diferentes,
mas em regime de encontro marcado para a desencarnação conjunta em acidentes
públicos.
Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito
pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de
epidemias arrasadoras.
Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela
megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração,
pleiteamos o Plano Físico a fim de sofrermos a morte de partilha, aparentemente
imerecida, em acontecimentos de sangue e
lágrimas.
Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidade na conquista de
presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos
o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios,
inexplicáveis sem a reencarnação.
***
Criamos a culpa e nós mesmos engenhamos os processos destinados a
extinguir-lhe as conseqüências. E a Sabedoria Divina se vale dos nossos
esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de induzir-nos a estudos e
progressos sempre mais amplos no que diga respeito à nossa própria segurança.
É por este motivo que, de todas as calamidades terrestres, o Homem se
retira com mais experiência e mais luz no cérebro e no coração, para
defender-se e valorizar a vida.
***
Lamentemos sem desespero, quantos se fizerem vítimas de desastres que
nos confrangem a alma. A dor de todos eles é a nossa dor. Os problemas com que
se defrontaram são igualmente nossos.
Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença de
Misericórdia Divina junto às ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento é
invariavelmente reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para
o bem de todos e que Deus nos concede sempre o melhor.
(Transcrito do livro: XAVIER, Francisco C. Autores diversos. Chico
Xavier pede licença. S. Bernardo do Campo: Ed. GEEM. Cap. 19).
Não precisa ser perspicaz para imaginar o soco no estômago
que uma explicação dessa causa em pais e mães que acabaram de enterrar os seus
filhos.
Como esperar que os pais, parentes e amigos se animem ao
lerem que as jovens vítimas eram “Invasores
ilaqueados pela própria ambição”, que esmagavam coletividades com “volúpia do saque”? Qual o consolo que
nós espíritas oferecemos ao dizer as mães em luto que seus filhos provavelmente
eram “promotores de guerras” com “megalomania do ouro e do poder”, e por
isso morreram de forma tão desastrosa? Esse é o Consolador Prometido por Jesus?
Não temos dúvida: o familiar em dor, desespero, sem saber o
porquê da perda, ao ler uma mensagem dessas, não ficará mais consolado; ao
contrário, se sentirá indignado e ofendido.
Na Palestina do século I, uma pessoa cega, paralítica ou
endemoninhada era vista como pecadora. Ninguém tinha pena. Era castigo de Deus e
Deus sabe o que faz. Problema delas. Nem no templo de Jerusalém elas poderiam
entrar. Estavam afastadas do mundo e de Deus.
Um rabi de Nazaré, tido por muitos como messias de Deus,
nunca negou auxílio para nenhuma. Nunca soubemos que acusou qualquer um dos
enjeitados da sorte como pecadores. Simplesmente amava e o seu amor puro curava
esses sofredores. O nome dele era Jesus de Nazaré.
O Espiritismo só será o consolador prometido por Jesus se os
espíritas souberem consolar quem chora, e não apontar o dedo discursando sobre
supostas culpas.
No caso da mensagem de Emmanuel, ela integra um livro da série
“Na Era do Espírito”[1],
onde questões feitas por encarnados são respondidas pelo amigo espiritual do
médium mineiro. É um tema de estudo, em um ambiente de estudo e feito para o
estudo. Não é mensagem para ser distribuída e amplamente divulgada em um momento
tão doloroso, o que quase equivale a entregá-la nos velórios e funerais.
Em tragédias como essa, os votos de fraternidade e
solidariedade devem ser os primeiros. As famílias e os amigos desses jovens
merecem todo o nosso respeito em seu luto. Não sejamos especuladores do
sofrimento alheio. Ainda estamos longe de conhecer todas as causas espirituais
de um desastre como esse. Publicar (ou postar nas redes sociais) “Desencarnações Coletivas”, nesta hora,
pode causar mais dor do que consolo, além de generalizar a resposta que não
temos, pois somos ignorantes das causas das aflições nossas e alheias. O
silêncio é a melhor condolência.
[1] Os outros livros que compõem a série “Na Era do
Espírito” são: “Na Era do Espírito” (1973),
“Astronautas do Além” (1974) e “Diálogo dos Vivos” (1974).
Imagem 1: fonte Fonte:
http://www.google.com.br/imgres?start=109&hl=pt&sa=X&tbo=d&biw=1440&bih=776&tbm=isch&tbnid=n3m4rUBqm1j95M:&imgrefurl=http://www.valor.com.br/brasil/2987446/apos-incendio-em-boate-118-pacientes-seguem-internados-no-rs&docid=UgDrcqu33HbPsM&imgurl=http://www.valor.com.br/sites/default/files/imagecache/media_library_560_367/images/santa_maria_galeria_parte20_0_0_1920_1257.jpg&w=560&h=367&ei=2g8IUem8I4T89gTu7oBo&zoom=1&ved=1t:3588,r:17,s:100,i:73&iact=rc&dur=1508&sig=116726518455711075366&page=6&tbnh=178&tbnw=277&ndsp=21&tx=207&ty=99
Imagem 2: fonte: portal da FEB (http://www.febnet.org.br/blog/geral/movimento-espirita/desencarnacoes-coletivas-emmanuel/)
Se eu bem entendi, eles mereceram, não é isso mesmo? É . . . o momento é, de fato, bem apropriado para essa constatação.
ResponderExcluirJefferson, realmente os comentarios sao de uma insensibilidade inacreditavel!!!!
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